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Noites de Cabaret

  • Conto erótico de hetero (+18)

  • Publicado em: 25/02/15
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  • Autoria: LOBO
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Berlim anos 30. A tremenda desvalorização do marco alemão pós-guerra. Recessão. Poucos então notavam: o ovo de uma sanguinária serpente, o nazismo, já estava sendo chocado.


Apesar disso tudo, a noite berlinense fervilhava. A música permeava os cabarets, muitas vezes com letras ousadas, onde um duplo sentido não mascarava uma lasciva sensualidade. Salões lotados, a fumaça dos milhares de cigarros acesos provia o ambiente de uma adequada bruma de mistério. Lugares onde amores nasciam, consumavam-se pela madrugada, morriam com o raiar do sol. Renasciam em novos parceiros na noitada seguinte.


Era cada vez mais difí­cil viver em Berlim. Uma cidade totalmente decadente. Mas divinamente decadente...


Encontrava Stelle sempre no Die Blaue Backerai. Uma antiga padaria falida, que nosso amigo Klaus Goldschmidt, surrupiando dinheiro da famí­lia e amigos, transformou num cabaret. Lá dentro - daí­ o nome - a ambientação era toda em tons de azul, do royal ao escuro, passando pelo violáceo. Um décor soturno. Mas com isso, a pele alva das mulheres, que logo perceberam e tiraram partido, se evidenciava. Lá chegando, livravam-se dos pesados sobretudos, brilhavam em vestidos de cores luminosas, verdes, amarelos e principalmente vermelhos. Resplandecentes.


Embalados pelas canções da pequena orquestra de Herr Jacob Berger, e suas sempre provocantes crooners, evoluí­amos no tom que o conhaque barato que podí­amos pagar nos guiava. A vida lá fora, ficava lá fora. Ali sonhávamos. E às vezes viví­amos de verdade esses sonhos.


Foi assim que conheci Stelle. Nós dois imigrantes perdidos, sem grandes expectativas. Vivendo apenas um dia após o outro. Era o que nos restava a fazer.


Naquela noite Stelle chegou mais tarde. No pequeno jornal onde trabalhava, seu editor tinha sofrido várias ameaças de grupos ligados ao nacional-socialismo, que cada vez ganhava mais força na Alemanha. Não tinha coragem para enfrentá-los e ordenou que todas as matérias da próxima edição fossem reeditadas, eliminando-se qualquer citação, qualquer palavra que desagradasse aquela corja.


Stelle estava furiosa. Beijou-me rapidamente e entornou de uma vez todo meu conhaque. Antes que eu falasse qualquer coisa, comandou dois duplos a Klaus, que nos serviu mais doses daquela sua beberagem suspeita.


Brindamos. Já era meu segundo, talvez terceiro... conhaque. O vestido vermelho de Stelle, costas nuas, seus seios dançando livres sob o tecido... No palco, mais pimenta agregada: agora Elke Ziegler, queridinha de Berger - e de mais alguns...- num vestido dourado cheio de fendas - e nada por baixo - cantava "Sex Appeal". Um clima de sedução.


Ela me conta sobre seu dia desgastante. Seus olhos verdes, que sempre me hipnotizam, me fitam, enquanto me diz:


- Sabe querido, vivemos cada vez mais em tempos onde não há futuro. Logo, não há porque ter medo de fazer loucuras... - e termina a frase com um sorriso muito especial.


Como sempre, reajo sem palavras. Agarro-a, roubando um beijo. Cinematográfico... Até foi aplaudido pelos que estavam em volta.


- Vamos? - Digo a ela.

- Imediatamente... - Stelle confirma.


Mas temos um problema: Ingrid e Isaac Zhitmann, nosso querido casal "II", não estavam por lá. Há dias ninguém sabia deles. Tanto eu como Stelle estávamos alojados em pensões. Pocilgas pouco menos que sórdidas, onde a entrada de casais não casados era impensável. Absolutamente Verbotten...


Ingrid e Isaac eram nosso porto de segurança, sempre nos abrigavam, hospedavam nossos delí­rios de amor intenso. Agora sem eles, sem dinheiro para algum hotel que não fizesse perguntas, como fazer?


Stelle toma meu braço e me puxa.


- Vem. A gente dá um jeito...


Saí­mos do cabaret. Flanamos sem rumo pelas strasses berlinenses agora vazias. Poucos minutos depois, um grupo de SAs, em seus intimidadores uniformes pardos, cruza conosco. Certamente indo ou voltando de algum atentado. Nos olham desconfiados, mas seguem em frente. Dobram uma esquina. Stella grita:


- Bando de crápulas assassinos!...


Tenho que fazê-la calar. Se ouvissem e voltassem, fácil saber o que haveria.


- Está louca? Quer que nos matem?

-Ah! estou cansada dessa vida de medo...


Então me encara, muda sua postura. De indignada ante os tempos, para a mais pura provocadora:


- Hmm! Eles iam bater na gente, não é? Se é para apanhar, eu preferia apanhar de você...


Sai correndo, chutando latas de lixo que encontra pelo caminho.


- Vem me pegar, vem...


Tenho que pegá-la. Por dois motivos: primeiro, obviamente, o desejo. Segundo para parar aquela algazarra que poderia trazer os SA de volta.


Ela corre bem. Levo uns 200 metros para alcançá-la. Num golpe de sorte. Bem ali onde a domino e imobilizo, há uma viela, um beco sem saí­da. Escura, lâmpadas queimadas que a prefeitura falida não trocou. Os imóveis em volta parecem abandonados. Puxo Stelle penumbra adentro.


- Vem cá, sua doida...

- Hmmm! Adoro essa tua cara de bravo... Vai punir pela loucura lá fora, é? Então começa...


Provocação, teu nome é Stelle...


Pouco se incomodou com o frio. Largou a bolsa no chão, tirou e dobrou seu sobretudo e o jogou sobre ela. Stelle se colocou de costas. Apoiou as mãos sobre o muro. Inclinou-se para traz, separou bem as pernas. Soltou o braço esquerdo e puxou o vestido para cima da cintura, prendendo a barra do tecido no cinto que usava.


- Ou me bate, ou eu grito chamando os SA...

- Ora... Imagine se aqueles trogloditas merecem uma mulher dessas? Você é minha!...

- HMMM! Gostei dessa... Então me faz...


Ah! Os fetiches da dominação... Temperando e potencializando a sensualidade. Condimentos que Stelle sabe manipular com toda a lascí­via.


Começo a expulsar de seu corpo o frio da madrugada. Aplico nela a energia de palmadas que fazem suas carnes vibrarem, sua pele tornar-se rubra como o desejo. Esse ritual faz acordar dentro dela a cortesã sem limites.


Arranco a calcinha de seda que ela usava. No incentivo de seus sussurros, entremeados de gemidos.


- Bate mais querido, mais!...Me faz ser tua, toda tua...


Não foi preciso muito mais. Como muitas - das muito raras - mulheres que têm uma sensualidade extrema, Stelle tem esse fetiche da dominação, das palmadas que nada mais fazem que aquecer, colocar em fogo sua libido.


Ela se volta para mim. O frio da madrugada Berlinense foi afastado para longe dela. O tecido leve do vestido, que se escondia sob o pesado sobretudo, escorrega por sua pele. Uma alça cai, exibe seu seio. Que ela oferece. Minhas mãos acariciam. Meus lábios o reverenciam. Ela beija meu pescoço, cravas suas unhas às minhas costas. Sussurra ao meu ouvido:


-Vem, querido. Te quero agora dentro mim. Já te disse. Sou toda tua...


Desce suas mãos, abre minha calça e liberta um membro cuja ereção é resoluta. Enlaça a perna esquerda ao redor das minhas e me diz, num tom quase súplice:


- Te quero! Vem, me fode aqui...


Sou recebido em seu corpo naquele mesmo calor intenso que já conhecia tão bem. Mas agora, o inusitado, o sabor do proibido que desafiávamos, potencializou tudo.


Todo dentro dela, celebramos essa penetração com um beijo. Que segue, que nos funde até dividirmos um orgasmo intenso, certamente o mais denso que já tivemos até então.


Tentamos nos recompor. Ao longe, um galo, que sabe-se lá como, consegue manter-se a salvo da panela de alguma famí­lia de desempregados famintos, canta. Vai amanhecer.


Stelle ajeita o vestido, veste o sobretudo. Vaidosa, ajeita os cabelos. Mas foi inútil olhar em volta. Sua calcinha sumiu. Talvez algum esquálido gato vagabundo daquele beco viu nela a possibilidade de algum agasalho. Nunca saberá do calor intenso que aquela sutil peça de roupa abrigava...


Saí­mos à rua. Caminhamos até chegar a uma avenida. É domingo, os poucos berlinenses que trabalham hoje começam a surgir apressados, correndo para evitar atrasos que comprometam o raro emprego que ainda têm. Cruzamos com um vendedor de jornais que vendia exemplares da edição dominical do Ví¶lkischer Beobachter, pasquim oficial dos nazistas, com suas manchetes cheias de calúnias odiosas. Pena nossos olhares não terem poderes. Se tivessem, incendiariam aquela pilha de jornais.


Está ficando dia claro. Temos pouco a fazer agora. E pouco dinheiro para fazer algo mais juntos, o que nos desagrada. O que nos resta é retornar a nossas pensões e dar a nossos corpos um contrariado descanso solitário. Caminhamos mais um pouco, quando Stelle me aponta um velho prédio de quatro andares, certamente construí­do no final do século XIX.


- É ali que a Frieda mora!


Conheço essa amiga de Stelle. Uma escritora de livros não publicados, que vive só, num velho apartamento herança de famí­lia. Subsiste trabalhando numa lavanderia, completa o parco orçamento como cobradora da companhia de bondes no fim de semana.


- Talvez ela ainda não tenha saí­do. Pode nos emprestar o apartamento...


Termina a frase com aquele mesmo sorriso que luziu provocante em sua face, antes de entrarmos naquele beco.


Demos sorte. Frieda só sairia daí­ a meia hora. Solitária, ficou feliz em encontrar rostos amigos. Cedeu-nos o apartamento para que ficássemos. Um velho imóvel de dois quartos, na famí­lia há duas ou três gerações. Antigos retratos de familiares pelas paredes de pintura desbotada, cozinha e sala conjugadas, um aposento cheio de livros em pilhas pelo chão e um único móvel, uma secretaire de mogno, trono de uma máquina de escrever. Quarto de dormir com um armário com portas desalinhadas e - ah!...- uma cama de casal e cobertores. Que mais se poderia querer?


Frieda parte rumando à garagem dos bondes, umas quatro quadras dali. Nos despimos e nos aboletamos sob os cobertores. Brincadeiras, beijos. Mas estamos cansados da longa noitada. Adormecemos.


Umas três horas de um sono pesado. Mas parece que Stelle acordou primeiro. Vou acordando aos poucos. O que faz despertar é uma lí­ngua que desliza pelo meu peito, desce abaixo da minha cintura e segue até minha virilha. Já totalmente acordado, levanto os cobertores e encontro Stelle com meu pau em suas mãos.


- Bom dia, querido! Vai me servir um bom leite quente?


Nos servimos ambos. Stelle sugou meu pau, diligentemente, sem pressa. Segurando nos lábios a glande rubra, lançando-me aquele olhar tão mesclado: da menina que pede permissão para fazer algo não comum, da mulher cheia de desejo que assinala que nada a impedirá de ir até o fim.


E foi, como sempre me fez. Enternecendo-me. Enlouquecendo-me...


Após depositar minha masculinidade liquefeita em sua boca faminta, nada mais restava ao cavalheiro que retribuir a gentileza.


Puxei Stelle do fundo da cama:


- Agora vou eu...


Fui da maneira que já sei como ela se incendeia. Beijando seus seios, sugando-os um a um, primeiro suavemente, depois, aumentando a voracidade. Sei como fazer isso, sei como se comporta o fogo da sua libido. Sigo nisso até que ela prende meus cabelos num carinho, me sussurrando:


- Me chupa, meu safado...


Pedido atendido claro. Bebo da sua fonte, atiço ainda mais sua fornalha enquanto ela se contorce na cama. Devolvi, na mesma moeda, o gozo que me deu...


Fome. Ainda temos energia para consumar desejos. Mas o que nos abate agora é a prosaica fome de estômagos vazios. É meio dia, não jantamos na noite passada, nada comemos exceto um ou outro canapé farinhento que Klaus nos servia com os conhaques.


Uma incursão na cozinha de Frieda é desanimadora: chá, pães amanhecidos, um vidro de indigestos pepinos em conserva. Stelle se lembra: Frau Birgitt mora logo ali no prédio em frente. É a única opção, nesse domingo em que tudo - aquilo que ainda funciona em Berlim - está fechado. Só me resta cair nas garras de uma exploradora do mercado negro, tí­pica praga que sempre viceja em economias em crise. Junto os marcos que eu e ela ainda temos e vou lá.


Frau Birgitt é uma gorda de cabelos oleosos, uns 70 anos, olhar cinza e fixo, que me mede a cada palavra que falo. Recebe-me num imóvel mal ajambrado, com uma mobí­lia desconexa, parecendo serem peças vindas de vários antigos donos, que as trocaram por um tanto de ví­veres. Umas quatro ou cinco crianças berram à sua volta. Ela também fatura uns trocados cuidando - mal... - delas.


Consigo comprar pão preto - ao menos é do dia - ovos, algumas parcas gramas de frios, um queijo algo borrachoso e café. Duas garrafas de um vinho da Alsácia. Os marcos que sobram não pagam uma passagem de bonde. Saio de lá enquanto sinto às costas o sorriso de Frau Birgitt, comemorando mais um otário explorado.


Improvisamos um almoço com o tesouro que trouxe da velha. Devoramos rapidamente, estávamos famintos. Stelle retira pratos e talheres da mesa, guarda para Frieda os alimentos que sobraram, na pequena despensa sobre a pia. Mas como nossa fome alimentar foi resolvida para as próximas horas, há tempo para cuidar de outra.


Estávamos ali naquela cozinha envolvidos em toalhas que emprestamos de Frieda. Arranco a que Stelle usava e a coloco nua, sentada sobre o tampo da mesa.


-Ah! É assim? Então toma... - E ela arranca a minha toalha...


Abre bem as coxas, abraça-me. Recebe-me de novo dentro dela...

Cheguei a temer pela segurança. A velhí­ssima mesa de jantar de Frieda rangia muito, ameaçando desfazer-se ante nossos í­mpetos. Mas estes nossos í­mpetos me fizeram esquecer tudo. Stelle me beijava, mordia suavemente minhas orelhas, gemia sussurrando em meus ouvidos. Enlaçou suas pernas em torno da minha cintura, me trouxe todo para dentro dela. Apertados contra meu peito, os mamilos em seus seios, rijos, diziam-me de sua excitação.


Cada vez mais fundo, cada vez mais forte, nos consumimos.

Stelle chegou primeiro ao orgasmo. Sinalizou isto num grito. Como já me conhecia bem, sabia que minha vez ainda não chegara. Empurrou-me para traz suavemente, abraçada em mim deslizou pelo meu corpo, até se por de joelhos no chão. Abocanhou o membro molhado dela e sugou-o com fome. Bebeu-me de novo.


A velha mesa de Frieda balançou muito, rangeu, mas resistiu...


Voltamos para a cama. Ainda tí­nhamos algumas horas para fruir, antes que a dona do apartamento retomasse sua posse. Ficamos ali entre carinhos e uma conversa mais densa, sobre nossa experiência de viver na Alemanha naquele momento histórico. Muitos ainda não se davam conta, mas nós, em virtude de nossas formações acadêmicas e trabalho, tí­nhamos as ferramentas para entender o que viria. Nada menos que o inferno...


Bom, aliás, ter conseguido, graças à hospitalidade da nossa Frieda, ficar mais umas horas com Stelle. Na semana que vem viajo, e certamente não retornarei à Alemanha. Minha empresa tem noção de tudo que ocorre, vai fechar os escritórios aqui. Todos seus representantes serão remanejados para paí­ses mais seguros. Parto na quinta para Lisboa. Devo ficar lá umas semanas e depois provavelmente me estabelecerei, mais seguro, em Nova Iorque.


Quero, preciso, levar Stelle comigo!


Ela ainda está dividida. Tem consciência de tudo que está por vir, mas seu idealismo a deixa em dúvida. Tem ligações com um grupo de pessoas que pretende se organizar em oposição ao nacional-socialismo. Estão criando algo que chamam "Fraternidade da Rosa Branca", ou algo parecido, e pretendem lutar contra a ditadura sanguinária que vem por aí­. Idealismo puro, ingenuidade total, suicí­dio certo. O monstro que está nascendo vai se alimentar de muito sangue antes que se possa derrotá-lo.


Conversei muito com Stelle, tentando convencê-la. No fim, ela me beija e diz que me dará uma resposta nos próximos dias.


- Mas hoje é domingo! Chega de falar de desgraças...estamos aqui só nós dois, nus num quarto, vamos aproveitar bem isso...- e complementa:


-Me deu vontade de dançar pra você...


Levantou-se e calçou seus sapatos de saltos altos. Mas continuou nua...


Mexendo no armário de Frieda achou uma vitrola e alguns discos.


- Use sua imaginação. Nós agora estamos nalguma boate no Marrocos...


Violinos, alaúdes, percussionistas na tí­pica batida do oriente médio encheram o ar do quarto, ela começa a se movimentar. Pelo que sei, ela, Frieda e outras amigas frequentavam um tempo a academia de danças de uma imigrante libanesa.


Ela move seu corpo com toda a milenar sabedoria sensual das bailarinas de dança-do-ventre. Nua, seu corpo brilha na penumbra daquele quarto. Cada requebro, cada meneio de seu corpo hipnotizam, enlevam e encantam-me. E claro: excitam-me profundamente...


Aguento manter-me na posição de mero expectador por mais uns poucos minutos. Meu sangue ferve e salto da cama, agarro Stelle e a trago.


- Quero você toda, mulher!...


Enquanto o disco termina e a orquestra que se cala, rolamos abraçados no velho colchão.


- Está bem meu Sultão: tua odalisca sabe o que você quer...


Stelle colocou-se de quatro na cama, e ofereceu-se. Já a tinha sodomizado outras tantas vezes, mas esta foi muito mais intensa.


Começamos assim, penetrei-a nessa posição, senti todo o calor de seu fogo me incendiar e logo estava todo dentro dela. Assim mais alguns minutos, quando então Stelle jogou os braços para traz, segurou-se em meu tronco, apoiando-se para se erguer.


Sem que eu saí­sse de dentro dela, ficou de joelhos, tronco ereto, fazendo-me também ficar assim. Continuamos a relação dessa forma. Ela passou a gemer mais, sua respiração tornou-se mais ofegante.


- Nossa querido, que coisa extraordinária! Não sinto apenas prazer... Sinto o prazer também no teu corpo, como se agora nós fossemos um só...Acredita?...


Sim, eu acredito. Conheço pouco a respeito de coisas como sexo tântrico e similares. Mas a experiência que vivemos é única. Cada estocada que dou dentro de Stelle me sacia de prazer. Mas sinto todo prazer que percorre o corpo da minha amada também.


Seguimos assim. Com uma mão a seguro massageando seus seios. Com outra empalmo a fornalha de seu sexo. Sem que combinássemos essa coreografia, nos revezamos: ora sou eu que dou estocadas e entro, ora paro e Stelle se move: tal como a dançarina de antes, mexe o quadril para os lados e para traz, me recebendo dentro dela.


Nunca tí­nhamos tido algo assim, tão duradouro, tão intenso.


Ao final, nossos corpos pareciam não ter mais peso...


Anoitecia, Frieda estava por chegar. Arrumamos tudo, e logo depois que terminamos nossa amiga retornou. Ficou muito feliz ao ver que deixamos alguns mantimentos na sua despensa.


Agradecemos sua hospitalidade e estamos de partida. Mas antes Stelle segreda qualquer coisa a Frieda, que me olha numa gargalhada. As duas vão para o quarto e retornam pouco depois. Partimos.


Na escada Stelle me conta que havia pedido uma calcinha emprestada, já que aquela sua desapareceu no beco, o que provocou o riso malicioso de Frieda. Ninguém por perto, Stelle ergue a saia e me mostra: uma peça que começa presa por elásticos no meio da coxa, e termina acima do umbigo. Nada inspiradora...


Pobre Frieda. Não é à toa que dá tão pouca sorte com os homens...


Seguimos pela rua. Agora não há jeito. Nossos marcos se evaporaram, só conseguiremos alguns para nossa subsistência quando os bancos abrirem - e sempre há o risco de que não abram... - na segunda-feira. Temos que nos separar para dormirmos solitariamente, em nossas pensões pouco menos que infectas.


Outro grupo de SAs cruza conosco na rua, parecem bêbados e cansados. Certamente cometeram mais alguma barbárie. Mas felizmente cansados demais para importarem com dois estrangeiros como nós. Quando eles se afastam, Stelle se vira, e acompanha sua caminhada, até que sumam.


Juro que pensei que gritaria alguma provocação a eles, mas ela se volta para mim. Uma lágrima escorre de seus olhos verdes.


- Querido, estas últimas horas foram especiais, ainda estou sentindo você dentro de mim... Você está certo: é loucura ficar aqui. Se você quiser, vou embora contigo. Você quer?


Um frisson, misto de alegria, paixão, sei lá que mais me percorre:


- Meu amor: precisa perguntar isso?


Um abraço, um beijo. Um longo beijo.


- Bravo! Muito bom! - a frase vem seguida de palmas...


Assustados nos viramos. Aplaudindo nosso beijo, lá estavam Isaac e Ingrid, nossos queridos amigos. Abraçamos e beijamos os dois efusivamente. Não é só a alegria de revê-los, mas também o alí­vio de sabê-los vivos e bem. Sendo judeus de famí­lias conhecidas, portanto muito visadas, seu sumiço nos fez supor que tivessem sido presos ou pior coisa ainda.


Isaac nos conta que passaram os últimos dias em Kí¶ln. Foram lá em busca de um falsificador de documentos. Agora eram o casal Schumpeter, cristão, insuspeito, com passagens autorizadas para viajar para Genebra.


- De lá, conseguiremos nos mover para a América! - complementa Ingrid, muito vibrante.


Quando lhes digo que a América também é nosso provável destino eles exultam:


-Wunderbar!


Abraçam-nos de novo e comandam:


- Isto tem que ser comemorado! Vamos para o cabaret!...


Tento explicar que não temos dinheiro hoje sequer para um bonde, mas Isaac me interrompe:


- Meu bom amigo, não se preocupe. Vamos ter que deixar muitas posses aqui na Alemanha nessa fuga. Preferimos deixar nossa prata com aquele explorador do Klaus Goldschimidt que com os nazistas.


Seguimos todos abraçados a caminho do Die Blaue Backerai.


A orquestra de Jacob Berger toca a pleno vapor. As mesas começam a serem todas tomadas, Klaus nos serve as primeiras doses do seu conhaque vagabundo. No palco, Elke Ziegler - sempre provocante - começa a cantar seu primeiro número.


Lá fora há um mundo em convulsão. Uma guerra parece se aproximar.


Mas não aqui dentro.


Aqui, é mais uma noite de cabaret...


LOBO



Texto Publicado.

Direitos autorais reservados.

Proibidas sua reprodução, total ou parcial,

bem como sua cessão a terceiros,

exceto com autorização formal do autor.

Lei 5988 de 1973




*Publicado por LOBO no site climaxcontoseroticos.com em 25/02/15.


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